Alfabetizar-se não é fácil. Nem pode ser... Pois entramos num outro mundo. Imagine o seguinte: as crianças acabaram de começar a se comunicar oralmente, a representar o que sentem e querem por meio de desenhos e, de repente, vem essa cobrança da escrita. Vem um batalhão de cadernos com linhas, de letras enlatadas, de cartilhas... Vem a cobrança dos professores, da família. Veja que não estou falando de uma criança de 6 anos, mas de 3 e 4! Cada coisa! Ler e escrever não se aprende da noite para o dia. Criança aprende a escrever quando as letras deixam de ter o peso das palavras que querem significar. Leva um tempo do tamanho do Ensino Fundamental.
Nesse caminho, dúvidas, medos, conquistas e questões serão os companheiros de viagem das crianças. O que é muito bom, pois, só por eles acontecerem, já nos mostra como as coisas estão, quais intervenções fazer...
Não me canso de repetir a quem quer que seja: quanto mais se escreve, melhor se escreve, quanto mais se lê, melhor se lê.
A alfabetização não se restringe apenas à decodificação do alfabeto. Não é somente juntar umas letras aqui, outras acolá. Ler e escrever vai além. Ler e escrever é expressar o que se pensa, o que se sente, é saber que essa comunicação precisa de alguém que fale, alguém que escute... Para que, por que, para quem se escreve?
Com 3 e 4 anos, por mais que as crianças estejam escrevendo as letras, geralmente são as dos nomes delas, ou as dos nomes de seus familiares mais próximos, ou as de seus amigos. Mas ainda têm um caminho para percorrer. Um caminho que deve ser planejado pela escola e que pede tempo. Um tempo mais alargado, sem pressa, sem pressão... Um caminho que equilibra perfeitamente brincadeira, jogos, danças, pinturas e desenhos com letras e números. Ninguém escreve mais e melhor porque a escola puxou a alfabetização para 3 anos. Pelo contrário.
Teoricamente, as crianças são alfabetizadas até os 6 anos de idade. É uma época fundamental para a escola conversar com a família sobre o assunto. Possíveis intervenções, tirar aqueles medos do que “pode” e “não pode” ser feito, conversar sobre ideias de “acertos” e “erros”.
Não é necessária qualquer intervenção sistematizada, escolarizada, por parte dos pais e mães (a escola tem a responsabilidade de fazer com que a criança volte a sua atenção para tudo que tenha letras). A boa e velha leitura antes de dormir vai tomar outra dimensão e ela poderá se interessar por se arriscar em outras escritas. A família pode compartilhar desse momento com intervenções simples: imprima músicas, histórias e contos que ela goste e leiam juntos, escreva e leia listas de compras, assuntos da rotina, preferências literárias... Pense que as crianças começam a escrever com letras de forma maiúsculas, depois, passam a ler livros com letras de imprensa, até chegarem à letra cursiva. O universo letrado está por todas as partes!
Tenho certeza de que são pensamentos simples e comprometidos com o tempo das crianças que farão as suas histórias serem escritas com grandes e bonitas letras!
Inspiração e olhar: MARCELO CUNHA BUENO. Marcelo é diretor pedagógico da escola Estilo de Aprender e um eterno apaixonado pelo nosso “poder” de ler e escrever. Sou fã.]
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